A vida fora do glamour: 58% dos atletas olímpicos dizem não possuir estabilidade financeira com o esporte
Atletas relatam dificuldades e busca por outros empregos na vida fora do ciclo olímpico
Por Ana Júlia Moreira (*)
Palhaça de festa de aniversário, entregadora e supervisora de creche. Quem vê de fora não imagina que empregos como esse são o caso da boxeadora Morelle McCane, dos Estados Unidos, que disputou as Olimpíadas 2024, em Paris, e trabalha em serviços não registrados para se sustentar. Os Jogos Olímpicos são um espetáculo de realizações e representam a conquista de muitos sonhos, mas, para muitos atletas, a verdadeira luta acontece longe dos holofotes.
Em pesquisa publicada este ano, a Global Athlete revelou que essa realidade não é um caso isolado. Cerca de 71% dos atletas olímpicos, paralímpicos e aspirantes têm empregos fora do esporte para complementar sua renda. Em comparação, em 2020, nos jogos de Tóquio, 58% dos entrevistados relataram não ter estabilidade financeira, dependendo de apoio familiar, empregos flexíveis e prêmio de campeonatos menores.
Atletas americanos como o escalador Jesse Crupper; o medalhista de ouro no Arremesso de Peso Ryan Crouser; e até Nick Fink, prata nos 100 metros livres da natação, prata no revezamento 4x100 masculino e ouro no revezamento 4x100 misto em Paris, optam por trabalhar na área da engenharia para se sustentarem. Demonstrando que a medalha não é uma garantia de sucesso financeiro a longo prazo.
Enquanto isso, alguns atletas buscam soluções inovadoras para aumentar sua renda. Jack Laugher, britânico medalhista de bronze no alto Ornamental e Robbie Manson, remador da Nova Zelândia, encontraram no OnlyFans uma maneira lucrativa de sobreviver. Manson revelou à Reuters que seus ganhos no site de conteúdo adulto superam o dobro do que ele obtém com o remo, destacando a nova realidade econômica no mundo esportivo.
No Brasil, a situação reflete desafios semelhantes. Durante os Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio, uma pesquisa publicada pelo Globo Esporte revelou que 33 dos 309 atletas da delegação brasileira conciliavam suas carreiras esportivas com outros empregos. Além disso, 131 deles não tinham patrocínio, 36 realizavam permutas e 41 participaram de vaquinhas para arrecadar fundos. Esses dados ilustram a luta constante para equilibrar o sonho olímpico com a necessidade de sustento.
Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM, sugere uma solução estratégica para melhorar a situação dos atletas. Ele defende que uma presença constante nas redes sociais pode ser crucial para atrair patrocínios e apoio contínuo. "Os atletas devem se engajar nas redes sociais e construir uma presença sólida fora dos períodos de competição. A visibilidade digital é fundamental para garantir apoio e patrocínios consistentes", explicou o especialista, em entrevista para o Estadão.
Por essas e outras razões, a jornada olímpica é marcada por muito mais do que apenas treinamentos e vitórias; é uma batalha constante por estabilidade financeira e reconhecimento na área.
(*) Sob supervisão e edição do prof. es. Caíque Toledo
