O amor em forma de missão na terra

Mario Romero lidera uma ONG de ostomizados em diversas cidades do Brasil, informando e levando esperança. 

Com uma infância maravilhosa, sem maldade e com pureza de criança, com brincadeiras de pega-pega, carrinho, bolinha de gude que não se vê mais nos dias de hoje. Mario Romero nasceu em São Paulo, mas com seis meses de vida, os pais resolveram se mudar para uma cidade mais tranquila, mais conhecida como Taubaté, no coração do Vale do Paraíba.

Por Francine Eustachio

 
Mario Romero realizando uma palestra
*Acervo Pessoal
A onde existiu carroças, charretes e não tinha se quer asfalto.  Estudou em um das melhores escolas de Taubaté da época Jaques Felix, mas acabou mudando para o
 Idesa a onde se formou. Aos 14 anos, teve o seu primeiro emprego registrado, “Eu trabalhei como empacotador no supermercado Val Paraíso, mais antes eu já trabalhava como engraxate” relata.  

Após um tempo seguiu os caminhos do pai  e entrou na Volkswagen, a onde teve seu primeiro desafio profissional. “No lançamento do gol bolinha que hoje é o antigo gol, nos tínhamos um prazo para ser cumprido”, lembra. Mas o que mais o preocupava era o lançamento da GM, “Trabalhamos praticamente 18 horas, por dia pra poder colocar Gol no mercado, foi bem difícil” conclui. Aos 21 anos, Mario se casou e teve seu primeiro filho, que foi a maior emoção de sua vida, “foi um momento inesquecível” diz. E logo depois vieram mais dois para completar a família, a caçula tem 32 anos e atualmente mora ela e suas duas filhas gêmeas com Romero.  

A doença

Até seus 50 anos, Mario viveu, cresceu, adquiriu bens, trabalhou muito e acabou se esquecendo de cuidar da saúde e quando foi ver era tarde demais. Ao descobrir um tumor no CA (Câncer Anal) e outro no CR (Câncer no intestino Reto), seu mundo desmoronou e o de sua família também. Não teve solução, o jeito era começar o tratamento quimio atrás de quimio, rádio atrás de rádio. O medo da morte era real, “Tive muito medo, no auge da minha enfermidade, eu achava que não ia conseguir chegar a onde cheguei”. Pelos coquetéis serem bem fortes, chegou a ficar com aparência de pele e osso. Mas a fé foi se reconstruindo, e trazendo força para recomeçar e para vencer. Mario Romero para sobreviver optou pela vida, e acabou amputando o anus e reto e a 15 anos convive com a ostomização (bolsa para necessidades) pro resto da vida e acabou vencendo o câncer.  

A ONG 

Mesmo com todas as dificuldades que enfrentou e a readaptação que não foi fácil, surgiram as limitações. “Sou uma pessoa amputada, socialmente tenho algumas limitações, mais superadas, mas não consigo praticar esporte e nem caminhadas longas” conta. Após a superação, Romero estudou sobre a ostomização e se viu na missão de ajudar pessoas que possuem e que passam pelo mesmo problema que ele passou. “Essa área foi um acontecimento na minha vida, a enfermidade veio e eu vi toda essa dificuldade que a população tem em conhecer os caminhos, para poder sobreviver” relata. Com isso surgiu a ONG AVO (Associação Valeparaibana de Ostomizados), a onde Mario Romero é criador e presidente. A dificuldade foi grande em manter a Associação, por depender de ajuda voluntária do Governo. Então o trabalho é grande. “Eu atuo 24 horas por dia,  eu acompanho pessoas, oriento, apoio, ajudo, informo, defendo, e luto pelos nossos direitos essa é a minha missão”, conta. Ele não tira férias, por isso vê como uma missão. A bolsa para necessidade, não existe em farmácias para compra, são somente adquiridas pela ONG totalmente gratuitas. Muitas pessoas não sabem da existência desse câncer, sendo uns dos mais difíceis de serem curados, pela precariedade do Estado de São Paulo, em divulgar só os tumores de Mama e Próstata. “Trabalho com pessoas, com ser humano, com enfermidade, com angustia, com dor, com incerteza, com tristeza, essa é a inspiração é aliviar a angustia e as incertezas das pessoas, e dar a ela uma esperança” conclui.  

 Vida Pessoal


Seu Mario vive a vida ajudando as pessoas
*Acervo Pessoal
Mario Romero, mesmo com 64 anos, ainda estuda e faz graduação em Administração de empresas. “To ralando muito” diz aos risos. Atualmente ele se candidatou a vereador no ano de 2016, ele ajudaria muito mais do que já ajuda, mas infelizmente acabou perdendo. Mas a família sempre o apoiou. “Somos parceiros e muito unidos, apesar dos meus filhos já serem casados, todo final de semana estão em casa”, descreve.  

 A rotina de Mario é corrida, ele não vê TV, “eu não costumo ver tv, pra ver tragédias prefiro ler um livro”, diz. Gosta de pescar e de sentir a natureza, quando tem um tempinho que é raro. Mario é um sobrevivente de um câncer, a cura está muito longe de chegar, mas nunca desistiu de viver. Hoje ele não se vê fazendo outra coisa, a não ser ajudando pessoas a acreditarem na cura e ter fé para vencer. “A vida é um presente, antigamente eu não via assim, eu não tinha tempo de ver a vida, depois que cheguei no extremo, no limite entre a vida e a morte”, relata. Mais hoje ele vê a vida de outro jeito. “Vejo a vida como um grande detalhe que trás  pra nos uma essência maravilhosa, a vida é um presente que temos que guardar com carinho”, conclui.  Perceber que existem dois Marios, um que só queria bens materiais e outro hoje que só quer eliminar todas as enfermidades, pena que isso não passa de um sonho. A realidade é cruel, mas a missão dele aqui na terra é linda, porque salvar vidas é amor.